quarta-feira, 13 de maio de 2009

A LÁGRIMA DE UM POETA

de Tadany – 22 06 08

O poeta serenamente observava a multidão passando
Ocupados sem saber qual o destino de suas pretensões
Seguiam as pessoas sonambulamente pelas calçadas perambulando
Instigados por uma força desconhecida, imersos em suas temporárias preocupações

Catatônicos espasmos físicos empurravam os corpos mecanizados
Enquanto o poeta se questionava com entranhável fervor
Como podem seres tão esbeltos, admiráveis e estilizados
Andarem deslustrados, sequiosos do imanente néctar do amor?

Será que eles olvidaram da excelsitude de suas naturezas
Como se um cubo de açúcar tivesse esquecido que sua essência é doçura
E por esta falsa perceptividade peregrinasse extraviado por remotas veredas
Tentando encontrar a resposta que findasse sua errônea amargura?

E outras dúvidas avassalaram o pensamento do observador poeta
Porque será que eles se arrastam autômatos sem intercambiarem um singelo olhar?
Como se fechassem a janela da alma, cujo anseio é estar fraternamente aberta
Para que a felicidade do coração alheio possa sempre lhes visitar

E porque a cortesia, esta fascinante molécula recheada de delicadeza
Parecia ter cedido seu espaço a inexplicáveis atos de solitárias individualidades
Que açoitavam qualquer tentativa de relações com ávidos golpes de rudeza
Que severamente suprimiam a congênita ânsia humana de viver na coletividade?

E onde andava a inata manifestação da venerável solidariedade incondicional
Que é a inexprimível representação da esperança que energiza as interações
Arquiteta da humana coesão que transforma a passagem numa aventura terrenal
Que energiza a alma, inspira a vida e materializa todas as augustas visões?

Absorto, suspeitoso e descrente de que uma indesejável e contraditória transformação
Havia invadido, corrompido e desvirtuado o âmago da existência humana
Inconscientemente o poeta se viu em sôfregos prantos e um indelével aperto no coração
Pois a resplandecência do homem tinha sido ocultada por uma desprezível lama

E a compaixão que sentiu o poeta, jorrou, em forma de lágrimas, desde sua essência
As quais desabaram pelo rosto num devastador vôo que se esborrachou no chão
Que ao tocar o solo, transformou-se numa visionária onda de benevolência
Que se espalhou por todos os cantos, obsequiosamente penetrando toda a criação

E os seres, que antes mecanicamente vagavam, despertaram do condicionado sono
E dos seus olhos, emanou o fulgor característico da grandiosidade que os manifestou
De seus lábios fluíram versos que aos ouvidos soavam dulcíssimo
Enquanto que dos atos, um afável desejo de intercâmbio e apoio mútuo os cativou

E aquele que, outrora, cobiçosamente labutava para exaltar seu limitado egocentrismo
Compartilhou toda a sua força moral e ativa no progresso de sua comunidade
Enquanto outros que haviam guiado suas condutas por escusados artificialismos
Visualizaram em cada detalhe da manifestação, a divina consangüinidade

E o poeta que, ainda sereno, contemplava o sublimável poder de uma lágrima
Naquele momento, entendeu que o sincero e inspirado desejo de apenas um coração
Possui a magia de transformar o quotidiano numa inigualável obra-prima
Onde cada ser, cônscio de sua essência, segue impassível pela longânime senda da evolução

Então o poeta, com a alma deleitosamente transbordando de felicidade
Vagou pelas gloriosas ruas, mansamente caminhando em direção ao lar
Usufruindo de cada molécula da alegria, virtude, esperança, paz e fraternidade
Que a nova aurora, por meio de uma lágrima, fez no homem despertar.

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