quarta-feira, 17 de junho de 2009

SENHORA DE MIM MESMA

de Martha Wolff

Não quero que a casa me governe, mas quero governar minha casa.
Não quero a eficiência do detergente, mas as borbulhas de cores.
Não quero pisos brilhantes, quero uma pele resplandecente.
Não quero porcelanas e marfins, quero carícias suaves.
Não quero os luxos orientais, quero as mil e uma noites.
Não quero quadros valiosos, quero retratos em minha alma.
Não quero cozinhas sofisticadas, quero poros temperados.
Não quero um dormitório Luiz XV, quero um autêntico leito matrimonial.
Não quero móveis de categoria, quero a criatividade e a sabedoria.
Não quero as plantas artificiais, quero as flores a cada dia.
Não quero lençóis bordados, eu os quero ornados apaixonadamente.
Não quero os chinelos ao pé da minha cama, quero os pés descalços na alvorada.
Não quero vestidos para andar dentro de casa, quero a segurança do nu.
Não quero bobies ao me deitar, mas sim sonhos cacheados.
Não quero cremes rejuvenescedores, mas rugas de emoção.
Não quero sexo por compromisso, quero motivações sensuais.
Não quero varizes, quero artérias aceleradas.
Não quero beijos frios, quero lábios excitantes.
Não quero tapetes maravilhosos, mas cenas de pôr-do-sol.
Não quero cortinas isoladoras, quero a transparência em minhas janelas.
Não quero pássaros enjaulados, quero filhos em liberdade.
Não quero a fidelidade de um cão, quero a intuição de um homem.
Não quero jóias valiosas, quero alianças indestrutíveis.
Não quero estar sempre em público, quero sim, a intimidade de um banho.
Não quero religiões místicas, mas o poder adorar.
Não quero saltos altos, quero elevar-me.
Não quero máscaras nas paredes, quero os meus diferentes personagens.
Não quero palavras ocultas, quero diálogos refrescantes.
Não quero ser "senhora" e sim "senhora de"
"Senhora de mim mesma"

Nenhum comentário:

Postar um comentário